- 12 de abril de 2021
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A tecnologia 5G representa uma grande oportunidade para a melhoria da competitividade da agricultura brasileira, trazendo mais eficiência, aumento de produtividade e redução de custos. Mas para que os produtores possam se beneficiar dessa inovação é preciso superar, principalmente, os desafios de infraestrutura e ampliar a conectividade.
Os impactos dessa tecnologia e a importância de melhorar a conexão no setor rural foram discutidos em audiência pública, realizada por videoconferência nessa quinta-feira (18), pelo grupo de trabalho (GT) da Câmara dos Deputados que acompanha a implantação do 5G no Brasil. O objetivo do grupo é analisar o processo de implantação e propor estratégias normativas buscando aperfeiçoar a legislação relativa aos serviços de telecomunicações.
Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária e uma das integrantes do GT, explicou como a transformação digital deve influenciar os rumos da competitividade e sustentabilidade das cadeias produtivas agropecuárias brasileiras. Ela ainda falou sobre a evolução da agricultura e a importância da conectividade na sociedade 5.0, caracterizada pela automação e robotização, lembrando que o foco do avanço tecnológico está na melhoria da qualidade de vida, trazendo inclusão e sustentabilidade econômica, social e ambiental.
“Entendemos que essa é uma questão estratégica para o Brasil. É algo que vai nos trazer uma melhora da produtividade, da eficiência, da competitividade dos produtos do Brasil, e obviamente isso significa aumentar os empregos no campo, o consumo do campo que acaba acontecendo na cidade – máquinas, equipamentos; e isso movimenta a economia brasileira”, disse o deputado Vitor Lippi (PSDB-SP), parlamentar que pediu a audiência pública para debater o tema.
Lippi ressaltou que a ampliação da conectividade é “um fator determinante para aumentar a produtividade dos setores industrial e agrícola”, mostrando preocupação com a realidade brasileira, já que mais de 70% das propriedades rurais ainda não têm acesso à internet. Por isso, frisou a importância de se debater a questão exatamente nesse momento em que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou a proposta do edital para o leilão do 5G, que segue para análise do Tribunal de Contas da União (TCU) nos próximos dias.
Leilão do 5G
Esse é o maior edital da história da Agência, com diversas faixas de radiofrequência, para aprimorar os serviços de telecomunicações no País, tanto de quarta como de quinta geração, segundo Leonardo Euler de Morais, presidente da Anatel. Com o espectro da rede de baixa frequência do 5G na faixa de 700 mega-hertz (MHz), espera-se melhorar a cobertura das áreas rurais.
De acordo com a Anatel, 89,2% da população brasileira já é atendida com a rede de internet 4G. Entretanto, observa-se que essa cobertura está concentrada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e no Distrito Federal, ao passo que Maranhão e Piauí apresentam os menores percentuais. Das 21 mil localidades com cobertura, identificadas pela Agência no País, que incluem os municípios sedes e não-sedes – como povoados, vilas e aglomerados, apenas 57% têm 4G. Entre 12 e 14 mil localidades não-sedes não dispõem de nenhuma cobertura.
O edital 5G deve contemplar 8 mil locais que ainda não têm acesso à rede e também vai propiciar maior conexão do campo. A cobertura desse tipo de localidade e de estradas é a que mais se relaciona com a conectividade rural, na visão de Morais. “Ainda que sejam localidades urbanizadas, a característica de propagação da faixa de 700 MHz, uma faixa mais baixa, certamente contribuirá para a melhoria da cobertura em áreas rurais”, afirmou o presidente da Anatel.
Outra vantagem é a ampliação da malha rodoviária de seis rodovias federais que vão de norte a sul do País, cuja cobertura 4G é de apenas 41%. No caso da BR 364, que passa por Cordeirópolis (SP) e vai até Mâncio Lima, no Acre, só 23% têm 4G. A expansão nas rodovias vai favorecer o escoamento da produção agropecuária. Além disso, o 4G permite conectar cerca de 10 mil dispositivos por quilômetro quadrado (Km2) enquanto o 5G possibilita que até 1 milhão desses dispositivos estejam conectados por Km2. Isso deve impulsionar a internet das coisas (IoT) no campo, com maior uso de sensores e equipamentos agrícolas automatizados, trazendo maior confiabilidade na coleta de dados.
Digital é o novo paradigma
Para Cléber Soares, diretor de Inovação da Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), “o novo paradigma do agronegócio no mundo será suportado pelo digital”. Numa metáfora, conectividade é a pavimentação inicial de uma grande estrada para se chegar a um caminho, mas ela não é tudo, explicou o diretor. É importante também desenvolver ferramentas digitais, sistemas, softwares e serviços.
“Quando nós falamos em conectividade no campo é importante termos a consciência e a ciência de que no melhor cenário, ano-base 2020, apenas 23% do território agrícola brasileiro têm algum nível de conectividade”, alertou Soares. Segundo ele, o Ministério da Agricultura está preocupado com essa realidade e vem trabalhando em estratégias para elevar esse índice.
Um estudo em parceria com a Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMR), também de 2020, identificou que 94% dos produtores rurais têm celulares e, desses, 68% possuem smartphones. “Isso mostra que o nosso produtor rural, mais ou vez, está apto e pronto para receber tecnologias”, enfatizou. Soares disse, ainda, não ter dúvida de que a conectividade vai dar um novo dinamismo ao agronegócio e será a promotora do novo paradigma do agronegócio brasileiro e tropical.
O Mapa também está olhando para outras formas de conectividade, seja usando fibra óptica, conexão via satélite e até mesmo as bandas analógicas com baixa frequência, que possuem qualidade, baixo custo e podem resolver os problemas dos produtores que estão em locais de difícil acesso. Em um cenário de ampliação de 25% na conexão atual do campo, o Ministério prevê um aumento de 6,3% no valor bruto da produção agropecuária do País, cuja estimativa é de 1 trilhão de reais em 2021.
“A conectividade vai melhorar a eficiência, ajudar na otimização dos insumos e dos recursos naturais, melhorar a eficiência das operações agrícolas, e também ajudar na melhoria da produtividade e na redução de custos”, avaliou a chefe da Embrapa Informática Agropecuária. Ela também mostrou que 85% dos pequenos e médios produtores já estão usando algum tipo de tecnologia digital para gerenciamento de suas propriedades, segundo um levantamento realizado pela Embrapa, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Outra característica relevante é que a tecnologia digital é transversal a toda cadeia de valor da agropecuária, desde a pré-produção à produção. A tecnologia 5G pode beneficiar uma série de aplicações no setor agrícola, como estimativa de safra, monitoramento de culturas e animais, colheita e pulverização automatizadas, detecção de pragas e doenças agrícolas, entre outras. Essa discussão da conectividade vai muito além de trazer tecnologia para o campo, na opinião de Silvia. “É uma oportunidade para o Brasil criar um programa de modernização da agricultura”, enfatizou.
Conectar pessoas e incentivos
“Conectar o agro não é somente máquinas; muito mais do que máquinas, são as próprias pessoas”, reforçou Tomás Fuchs, CEO da Datora Telecomunicações. Ele contou que as pequenas e médias operadoras foram as responsáveis por expandir a internet para as pequenas cidades do Brasil. Mas citou que 3,8 milhões de propriedades brasileiras não possuem conexão, destacando que a conectividade no agro representa aumento de produtividade, melhoria de gestão, segurança e retenção no campo, tanto de trabalhadores como familiares.
O leilão 5G pode proporcionar uma grande melhoria para o agronegócio, principalmente, com a oferta da rede de 700 MHz, considerada por especialistas do setor a ideal para as áreas rurais, de acordo com o CEO. Fuchs defendeu incentivos à desoneração, com redução do imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) nos estados para estimular o mercado, o que poderia ser feito com um fundo garantidor usando recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), contribuindo assim para gerar ganhos, promover o desenvolvimento e reduzir desigualdades.
Joaci Franklin de Medeiros, coordenador técnico do Instituto CNA, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), salientou que o agro “é movido a ciência, tecnologia, inovação e, além disso, por pessoas”. Medeiros lembrou a importância da criação da Embrapa em 1973, contribuindo para a evolução da agricultura brasileira.
Ele apresentou dados econômicos que mostram a relevância do setor, responsável por 21,4% do produto interno brasileiro (PIB), 32,3% da mão de obra e 48% das exportações do País, em 2019. O coordenador apontou que dos 5,07 milhões de propriedades rurais, 72% possuem internet; entretanto, no Nordeste, apenas 50% dos empreendimentos estão conectados, segundo o Censo Agropecuário 2017, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“A conectividade é um fator de desenvolvimento regional. Então, é importante levar para essas regiões e para todos os produtores rurais”, destacou Medeiros, frisando que a infraestrutura é um fator limitante no meio rural. Os dez maiores municípios produtores de grãos no Brasil ainda possuem dificuldades de acesso à internet. No caso de Sorriso, em Mato Grosso, principal produtor, o acesso à rede é de 54%. Por isso, ele defendeu a universalização dos serviços de telecomunicações e um ambiente regulatório favorável, com segurança jurídica, observando que a expectativa é que a nova geração de internet ainda demore de dois a quatro anos para chegar às capitais brasileiras.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) vem se esforçando para a regulamentação dos recursos do Fust na implantação do 5G, além de viabilizar uma política voltada à área rural, “para que a conectividade no campo chegue o mais rápido possível”, conforme seu consultor João Henrique Hummel Vieira.
Vitor Lippi reafirmou que o Brasil é uma potência no setor agrícola e, com esse trabalho integrado, vai ser uma superpotência, para gerar as riquezas necessárias e dar segurança alimentar ao mundo. “Sem dúvida, o grande desafio é a conectividade”, concluiu. Assim, tanto é fundamental a implantação das novas tecnologias, como a garantia dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, beneficiando a Embrapa e todos os institutos de pesquisa do Brasil, acredita.
Durante as discussões, o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) também ressaltou essa mobilização da FPA, reafirmando que é preciso melhorar o acesso à tecnologia para o desenvolvimento agrícola. Ele ainda questionou a adoção do padrão standalone no edital de 5G, que exige investimento novo das operadoras e pode ser mais demorado e caro, destacando que o agricultor no interior não tem conexão, mas tem pressa. Já o deputado General Peternelli (PSL-SP), além de solicitar esclarecimentos sobre aspectos técnicos, chamou a atenção para a necessidade de aumentar a produção agrícola em 70% até 2050, para alimentar 9 bilhões de pessoas no planeta, em um ambiente integrado e sustentável.